O futuro já é passado, vivemos o tempo das incertezas

Estava viajando pelo interior do centro sul dos Estados Unidos, mais precisamente pelo estado do Tennessee, em uma pequena cidade chamada Lynchburg, cidade natal de Mr. Daniel, o qual em 1866 fundou o que é hoje um ícone deste estado; a destilaria do famoso Jack Daniel. Neste momento meu celular tocou solicitando que participasse de um conference call, com pessoas dos quatro cantos do mundo. Em seguida pude receber, revisar, elaborar e enviar alguns relatórios e planilhas, tudo através de um pequeno smartphone, sentado em uma praça no meio do nada.

Este evento me fizera recordar uma passagem do livro “Terceira Onda” do escritor futurista Alvin Toffler, do final dos anos 70, o que inclusive, foi exaustivamente analisado durante meu curso de pós-graduação, onde ele mencionava que no futuro o trabalho poderia ser feito de forma remota utilizando o que denominava de “cabana eletrônica”, neste exato momento me dei conta que o futuro havia chegado, ou melhor, o futuro de Mr. Toffler já era passado!


Se pararmos, para refletir sobre a velocidade da mudança, e olharmos um pouco para trás, não muito longe, veremos que tecnologias como telex, máquina de datilografia elétrica, aparelho de fax, cartão perfurado, disquetes e outros, já não são mais lembradas. Os executivos mais novos nem sequer ouviram falar.
 

Até a pouco tempo atrás, o processo de comunicação era precário, caro e restrito. Uma organização, que detinha o monopólio de uma tecnologia ou conhecimento, tinha um longo tempo para consolidar sua operação, o qual podia levar 20, 30 anos até ser copiado pelos concorrentes. Como na era industrial o que contava era o patrimônio tangível, a força braçal e economia de escala, o caminho para geração de riqueza era crescimento e expansão da organização, passando pela internacionalização, colecionando país após país. O poder estava nas mãos de quem detinha a informação; a criatividade requerida da mão de obra era quase nula, o que importava era a capacidade dos empregados de fazer trabalhos sistemáticos e repetitivos.
 

Eram os tempos modernos, do saudoso Charles Chaplin. Grandes organizações, vários edifícios, grande número de empregados, baixa tecnologia aplicada, processos altamente complexos e burocráticos, até que em certo momento, 300 anos após a transição da sociedade baseada na agricultura para a sociedade industrial, por volta do inicio dos anos 60, o mundo começa a mudar, a se tornar mais ágil, novas técnicas de gestão vão nascendo e proliferando, a sociedade começa a mudar, a se tornar mais contestadora, mas o mundo continuava restrito aos países desenvolvidos.
 

Pois bem, 50 anos depois, isto é passado, é história!

Estamos tão absorvidos em nosso dia-a-dia, que não demos conta de que estamos vivenciando uma profunda revolução, a qual, acredito, somente se assemelha a mudança da sociedade agrícola para a sociedade industrial, rompendo e alterando os padrões conhecido da sociedade, das empresas, dos empregos, das instituições governamentais ou religiosas, enfim, um novo mundo, uma nova verdade está se formando, está em curso.
 

Com certeza, nenhum de nós passou por mudanças tão radicais, como estas que estão ocorrendo, por sorte nós, executivos brasileiros, vivenciamos e enfrentamos diversas crises institucionais, econômicas e financeiras, que nos deu uma condição única de encontrarmos soluções nos ambientes mais diversos e imagináveis. Isto não acontece nos países desenvolvidos, onde os executivos de 40/50 anos, nunca vivenciaram crises desta magnitude, o que me faz entender a perplexidade em que se encontram.
 

É uma grande ruptura de paradigmas, nunca se podia esperar a quebra do Leemman Brothers, ou a quebra da General Motors. É a era das incertezas, época do conhecimento, da inteligência, da informação. O mundo não está plano, está na realidade cada vez menor, sem fronteiras, e queiramos ou não, esta revolução não tem retorno, não tem controle, não temos certeza de nada, tudo esta em movimento constante, os padrões estão em crise, e esta acontecendo agora, neste exato momento.
 

Não sabemos como será o mercado, a sociedade, como as instituições irão operar, e nem como as empresas serão configuradas, somente sabemos que nada será como antes.
Vivemos em uma grande aldeia, a globalização está aí e apesar de tudo, é uma realidade. Não é possível contestar, empresas e profissionais competem globalmente. Não existe mais o monopólio do conhecimento porque este está se movendo rápido e livremente através do cyberspace, oferecendo condições de acesso amplo e irrestrito. É a democratização da informação. O mundo esta cada vez mais virtual, igual e padronizado.
 

Apesar da crise pela qual estamos passando, o capitalismo vai muito bem, principalmente se consideramos a adição de mercados, que até ontem eram socialistas. Imaginem o fluxo de comunidades que querem ter a qualidade de vida ocidental, ou pelo menos, a condição de escolha independente de como morar, viver, consumir, e etc. A natureza também está bem. Quem está com problema, somos nós, pobres seres humanos. A natureza, que sempre evolui, se ajusta para as novas necessidades, enquanto nós, é que temos dificuldade em nos adaptar.
 

Tudo isto está acontecendo na nossa frente, a um palmo de nosso nariz, contudo, dentro de nossas organizações continuamos discutindo com base no passado, elaborando planejamentos estratégicos e planos financeiros, levando em conta premissas de um mundo que já foi, e não voltará. Tenham certeza, que nos próximos 10 anos, existirão dois tipos de empresas: as falidas e as que mudaram.
 

Na era do conhecimento, os principais ativos de uma organização residem na mente das pessoas. Conhecimento e inteligência são intangíveis e inatingíveis, não é possível colocá-lo em uma caixinha. Este ativo, às 18 horas vai embora, ele é móvel, tem anseios, condição de julgamentos e o mais importante, oportunidade de escolha.
 

Muitas organizações ainda não se deram conta disto, tratam, ou melhor, não tratam seus principais recursos; os talentos, de forma adequada. Desconhece quem são, ignoram a criatividade e a diversidade, e não tem nenhum plano de retenção. Estas organizações, infelizmente irão perecer, devido à miopia operacional e baixa liderança estratégica, é uma questão de tempo.

Hoje em diversos mercados o diferencial esta baseado mais no atendimento, no design, na tecnologia embarcada, no suporte pós venda, na qualidade, do que no produto em si, exemplo é o automóvel, onde 80% de seu valor reside no design, qualidade e na assistência técnica.
 

A empresa que queira ter continuidade deve procurar, por um espaço de tempo, ser única. Oferecer um serviço único, e para isto, ela deve se reinventar sempre. Deve ter uma estrutura flexível, promovendo a criatividade e inovação, deixando fluir livremente em seu organismo. A mudança organizacional deve fazer parte de seu cotidiano, chefes e cargos fixos não existem nesta empresa, processos são trocados por projetos e a liderança estará baseada na gestão de pessoas, gestão de talentos, atraindo, retendo e motivando.
 

Ela deverá ter o melhor fornecedor, o melhor capital, o melhor talento, o melhor consultor, não importando onde estarão localizados. Operar globalmente e na diversidade será parte de seu DNA. Seus valores, missão e objetivos, serão muito mais abrangentes do que apenas gerar lucros, isto todas querem e nem sempre conseguem.
 

O futuro desta organização deverá ser criado, ao invés de meramente planejado, independente de tudo e de todos, movendo e mudando cada vez mais rápido, pois as respostas de hoje, não serão as respostas de amanhã.
 

A palavra chave, neste momento é “reinvente-se”, independentemente das complexidades, incertezas e 
inquietações que esta nova era nos oferece. As oportunidades estão lá fora para serem descobertas.
 

Pensem nisto e boa sorte!

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