Por que os programas de compliance falham?
Como acontece com outras prĂ¡ticas de governança, o programa de compliance, para ser efetivo, requer que os pilares que irĂ£o sustentĂ¡-lo, no tempo e espaço, estejam presentes.
Vejamos alguns pontos com os quais normalmente me deparo nas
corporações:
- Encontro
programas de compliance que se restringem apenas na existĂªncia de
polĂticas de integridade, que Ă© importante, mas nĂ£o o suficiente.
- Também,
me confronto com programas muito bem elaborados e formalizados em
polĂticas e procedimentos, entretanto, infelizmente, este programa fica
somente no papel.
- Me deparo
com Ă¡reas de compliance que sua atividade se resume na execuĂ§Ă£o de
controle, por meio do preenchimento de checklist, passando a ser, neste
caso, parte da primeira linha de gestĂ£o, perdendo sua identidade de Ă¡rea
especialista de segunda linha de gestĂ£o.
NĂ£o quero dizer com isto, que contar com um bom programa de integridade,
ou ter um processo adequadamente formalizado, ou realizar um monitoramento
independente nĂ£o seja importante. Sim Ă© importante, mas Ă© preciso Ă© que tudo
isto faça parte de um processo mais amplo, estruturado e integrado.
Gosto sempre de lembrar que compliance Ă© na realidade “atitude”.
É a atitude que todos, que façam parte ou se relacionam com a
corporaĂ§Ă£o, executem suas atividades, ações e decisões dentro dos valores
morais e Ă©ticos da organizaĂ§Ă£o, amparado pelos requisitos legais, sejam eles
oriundos de legislaĂ§Ă£o externa, do paĂs, estado, munĂcipio ou do Ă³rgĂ£o
regulador, sem exceĂ§Ă£o.
Outro ponto importante que devemos considerar Ă© que se o objetivo Ă© ter
uma corporaĂ§Ă£o onde suas atividades sejam amparadas pelos seus valores morais e
Ă©ticos, dentro dos requisitos legais, temos o “risco” de isto nĂ£o
acontecer.
Se compreendemos que nĂ£o estar em compliance Ă© um risco, precisamos
gerenciĂ¡-lo por meio de um processo estruturado para a identificaĂ§Ă£o dos riscos
e seus fatores, avaliando sua magnitude e no final, tratando-o de forma a
manter o fator de risco alinhado ao apetite a risco da organizaĂ§Ă£o, que neste
caso deve ser zero, por motivos Ă³bvios.
Agora, considerando que se nĂ£o todos, uma boa parte dos fatores de
riscos tem sua origem em fatores internos, podemos dizer que o seu tratamento
serĂ¡ por meio da implementaĂ§Ă£o de um sistema de controle interno, o qual Ă©
formado por ações, formalizadas em polĂticas e procedimentos, para a mitigaĂ§Ă£o
da probabilidade do evento de riscos se materializar.
EntĂ£o, atĂ© aqui, podemos compreender que um programa de compliance para
ser efetivo necessita estar amparado por um processo integrado para o
gerenciamento dos fatores de riscos, o qual por sua vez, necessita de um eficaz
sistema de controles internos.
Mas tudo isto, ainda nĂ£o Ă© suficiente para que o programa de compliance
realmente funcione apropriadamente. É importante que os trĂªs pilares basilares
estejam presentes. Os pilares sĂ£o:
1. Cultura – A organizaĂ§Ă£o precisa ter um
conjunto de valores e crenças apropriados para influenciar e alinhar a atitude
e o comportamento de todos colaboradores, prestadores, terceiros aos requisitos
de compliance.
2. ConsciĂªncia – A cultura prepara o caminho,
mas Ă© importante contar com gestores, colaboradores, prestadores e terceiros
que conscientemente acreditem, se comprometam, e que, apoiado pelos valores
morais da organizaĂ§Ă£o e pelas melhores prĂ¡ticas de gestĂ£o, exemplifiquem e
exerçam suas atividades dentro dos requisitos de compliance,
3. FormalizaĂ§Ă£o – Para a manutenĂ§Ă£o da qualidade
e entendimento das atividades, estrutura, processos e monitoramento Ă©
necessĂ¡rio a existĂªncia de um conjunto de documentos como: polĂticas,
procedimentos, cĂ³digo de conduta, instruções de trabalho e outros. Esta
documentaĂ§Ă£o, uma vez atualizada e amplamente divulgadas, permite a equalizaĂ§Ă£o
e alinhamento das atividades e operações, independentemente de qual ciclo de
negĂ³cio ela pertencer.
Posso, sem medo de errar, dizer que o grande desafio para a
implementaĂ§Ă£o de um efetivo programa de compliance Ă© com certeza trabalhar os
dois primeiros pilares: cultura e consciĂªncia.
Os Ă³rgĂ£os de governança, a alta e a mĂ©dia gestĂ£o tĂªm papel importante
nestes quesitos. Eles tĂªm a responsabilidade de definir os valores, promover um
ambiente propicio para a aplicaĂ§Ă£o das melhores prĂ¡ticas de gestĂ£o,
exemplificando estes valores em seu discurso, posicionamento, ações e em suas
decisões.
Logicamente, tudo isto exige uma mudança mental e comportamental de
todos os envolvidos, principalmente dos nĂveis de gestĂ£o e tomadores de
decisĂ£o. Um programa estruturado de capacitaĂ§Ă£o gerencial em governança,
compliance e nas prĂ¡ticas de gestĂ£o tende a reduzir a resistĂªncia Ă mudança,
mas o comprometimento incondicional aos requisitos de compliance, pelos membros
dos Ă³rgĂ£os de governança, serĂ¡ essencial para o amadurecimento da gestĂ£o em
relaĂ§Ă£o ao compliance e melhores prĂ¡ticas de gestĂ£o.
Cada linha de gestĂ£o deve conhecer claramente suas responsabilidades, de
forma transparente, nĂ£o podendo haver dĂºvidas, de forma que possam prestar
conta, para quem os elegeu, sobre toda e qualquer materializaĂ§Ă£o do risco de
compliance e/ou violaĂ§Ă£o aos valores morais da organizaĂ§Ă£o.
Temas estes que devem fazer parte da agenda do presidente, do conselho
de administraĂ§Ă£o e do comitĂª estatutĂ¡rio de auditoria.
Para finalizar, os programas de compliance que falham sĂ£o aqueles, que
por algum motivo, nĂ£o contam, de forma equilibrada, com os trĂªs pilares:
Cultura, ConsciĂªncia e FormalizaĂ§Ă£o
EntĂ£o: Reflita, inove, mude e no final
Seja feliz!