O sistema de controle interno para um efetivo programa de Compliance
No artigo anterior fiz uma reflexão sobre as causas que impactam adversamente a qualidade de um programa de compliance. Agora, neste artigo, quero trabalhar em como os atributos de um sistema de controles internos pode tornar o programa de compliance mais efetivo.
Para iniciar, vamos relembrar alguns conceitos básicos que fazem parte
da gestão e da dinâmica corporativa:
· Objetivo de Compliance: Sabemos que “compliance” é uma atitude, e que seu objetivo é assegurar que todas as atividades, tarefas, ações e decisões para a operacionalidade da organização, sejam realizadas dentro dos requisitos legais internacionais, do paÃs e/ou do órgão regulador, além, da conduta e relacionamento serem baseados nos valores morais da organização.
·
Risco: É todo e
qualquer evento que, uma vez materializado, deverá impactar adversamente a
capacidade da empresa alcançar seus objetivos e/ou sua missão.
·
Controle interno: É toda a ação, baseada em polÃticas e procedimentos, a qual tem como
objetivo mitigar a probabilidade do evento de risco se materializar.
Todas as organizações, sejam elas de qualquer nacionalidade e/ou setor
econômico, estão expostas aos efeitos de eventos, internos e/ou externos. Para
que a organização possa aumentar sua capacidade de alcançar os objetivos
operacionais, corporativos e estratégicos, os quais devem alinhado a sua
missão, ela precisa contar como um processo de gerenciamento de riscos, o qual,
proativamente, olha para o futuro, conhece os eventos que possam impactar sua
operação, identificam os riscos e suas causas, avalia a magnitude e define o
tratamento adequado para que possa manter os riscos dentro dos seus nÃveis
aceitáveis, isto é, alinhado ao seu apetite a risco definido.
A gestão de riscos, de forma objetiva, trabalha com três camadas de
risco em sua avaliação: Risco inerente, aqueles que estão relacionados com os
objetivos primários de um processo; risco de TI, aquele que se relaciona com a
operacionalização das atividades de TI em um processo operacional; e o risco de
compliance, incluindo neste grupo o risco de integridade também.
Um programa de compliance e integridade, é parte integrante da resposta do
risco identificado. Para este programa ser mais assertivo, importante que sua construção
leve em conta o resultado oriundo deste processo de gerenciamento de riscos.
Além de considerar a natureza, a cultura, o mercado, a estrutura e o nÃvel de
exposição da organização.
Para facilitar nosso entendimento de como o sistema de controle interno
interage com o processo de mitigação dos riscos de compliance, vou utilizar a
visão de Hierarquia do Sistema de Controles Internos do ICI – Internal Control
Institute, o qual é baseado no COSO ICFR, para podermos direcionar as ações
e/ou documentação de mitigação, como também a responsabilidade de cada um dos
nÃveis hierárquicos neste processo. Vejamos:
1. Ambiente de Controle: Este é o primeiro nÃvel da hierarquia de controles internos. A qualidade deste atributo irá contribuir para a qualidade dos outros nÃveis do sistema de controle interno. Sua composição é essencialmente por “soft-controls”, que são: polÃticas, programa de integridade, gestão da competência, segregação de responsabilidades, monitoramento estratégico e operacional e outros.
No caso de compliance, é neste nÃvel que trabalhamos as polÃticas que irá direcionar todas as diretrizes que devam ser observadas nas atividades diárias da organização. Estas polÃticas podem ser compostas por: compliance, integridade, código de conduta, anticorrupção, e outras que a organização achar necessário ter.
Neste nÃvel, também trabalhamos as polÃticas que irá traçar as diretrizes básicas para a manutenção e/ou desenvolvimento de competências, de cultura e de consciência de governança. Sabemos que a efetividade do programa de compliance está intimamente relacionada com o comprometimento de seus colaboradores, o qual somente é obtido pela gestão de competência e consciência para compliance e integridade.
Os responsáveis pela qualidade deste nÃvel são a gestão executiva (presidente e seus diretos) e a gestão de Governança (Conselho e seus comitês), os quais devem promover a cultura das boas práticas de gestão e governança, a consciência de compliance e dos valores morais da organização, como também devem monitorar o cumprimento de todos estes quesitos, além de reforçar a mensagem pelo exemplo.
2. Controle de Processo: Este é o nÃvel onde a gerencia média, aqueles que são tomadores de decisão e responsáveis pelos processos operacionais, tem como responsabilidade organizar, planejar, dirigir e monitorar. É um nÃvel composto por “soft e hard-controls”.
Neste nÃvel, os gestores operacionais são responsáveis pela elaboração e formalização dos procedimentos para a operacionalização das polÃticas, criação de processos de monitoramento por indicadores de desempenho (KPIs) e indicadores riscos (KRIs).
Devem supervisionar e revisar todo o processo, certificando que a entrega do processo atendeu todas as diretrizes de qualidade, de compliance e de integridade, evidenciando esta atividade por sua aprovação do produto oriundo do processo.
Além disto, devem promover a consciência de governança, compliance e integridade em todas as áreas e/ou processos que sejam responsáveis, além de continuamente direcionar a conduta de seu time, suas decisões e posicionamento para os valores morais definidos no código de conduta.
3. Controle de Transação: Este nÃvel é composto especificamente por “hard-controls”, como ações de verificação, recálculo, conferência, validação, realizados em conformidade com os procedimentos que foram definidos pela gestão média.
É neste nÃvel onde temos a execução das tarefas que compõem o processo, e consequentemente é onde executamos as atividades de controle para a mitigação dos riscos operacionais, incluindo os riscos de compliance e integridade.
Aqui, os responsáveis são
os colaboradores que executam as atividades e também os controles. A segregação
de função entre quem executa e quem revisa, quem registra e quem exclui, quem tem
a guarda do ativo e quem controla o ativo contabilmente, acontece neste nÃvel.
Quando melhor for a segregação, melhor será a qualidade dos controles neste
nÃvel.
Como você pode observar, o sistema de controle interno ele é um processo
que integra, de forma organizada e estruturada, todos os nÃveis de uma
organização.
Não é possÃvel ter um programa de compliance e integridade efetivo, se
não houver um sistema de controle interno especÃfico para a mitigação dos
fatores de riscos relacionados com o risco de tomada de decisão, ação ou
atividades fora dos requisitos legais e fora dos valores morais da organização.
Para concluir, é importante que a gestão de primeira linha esteja ciente
de sua responsabilidade em relação de definição e implementação de todos estes
atributos que demonstramos, em todos os nÃveis. E que para isto, sejam
efetivamente apoiados e instrumentalizados pelas áreas de especialistas de
segunda linha de gestão, como: compliance, controles internos e gestão de
riscos, as quais devem atuar integradas e com sinergia.
Então: Reflita, inove, mude e no final, o que importa
É ser feliz!