Uma vida, uma história, uma jornada

 


Hoje quero pedir licença de deixar um pouco os temas técnicos de gestão e governança, para relatar um breve extrato do meu diário.

Meu objetivo é levar um pouco da minha experiência profissional vivenciada nestes últimos 41 anos. São coisas que não aprendi nos livros e nem na universidade.

Atualmente passamos por uma mudança de era. Mudanças profundas, algumas disruptivas, tanto no mundo corporativo como também na sociedade. Novos paradigmas, novos conhecimentos, novos modelos de trabalho, tudo isto impacta diretamente nossa vida profissional.

Todo este processo de mudança exige muito do profissional, gera desemprego, perdas, quebras de paradigmas, adaptação, mas no final, tudo, de alguma forma, se estabiliza, pois faz parte do processo de amadurecimento.

As respostas para os problemas do passado, não necessariamente serão as respostas para os problemas atuais.

Observar as pessoas, suas atitudes e conhecer a experiência por elas vivida, sempre me ajudou muito compreender o momento, me permitindo gerenciar os desafios diários.  

Espero que este breve relato, possa, de alguma forma, ajudá-lo.


“Diário, 31 de agosto de 2021

Hoje completo 61 anos de idade.

Este está sendo um momento diferente, pois no dia 29 perdi meu pai, e ainda estou processando este acontecimento.

É interessante como nossa mente funciona, pois, apesar de tudo, me sinto tranquilo e estou aqui revisando algumas aulas que precisam ser ministradas esta semana ainda.

Estava, como de costume, com a televisão sintonizada na agência de notícias Bloomberg, acho que é um vício que trago da minha vida corporativa como C-Level, mas que me possibilita manter atualizado em relação ao que acontece no mundo dos negócios, entretanto, hoje estava procurando um outro canal, de forma a começar a relaxar, pois já são 22:30, quando passando pelo canal da NetGeoWild, vejo o programa que minha filha é uma das protagonistas, Dra. K Clinica de animais exóticos.  (Minha filha é médica veterinária especializada em animais selvagens e exóticos, e trabalha com a Dra.K, no condado de Broward na Flórida.)

Sempre vejo o programa, mas hoje foi diferente, vê-la em um atendimento de emergência, sendo televisionada para mais de 160 países, sendo considerada como uma profissional referência, aqui no Brasil como nos Estados Unidos, desencadeou, como um filme, estes meus últimos 40 anos de vida profissional, plasmando de forma simples, todas as experiências que tive iniciando, lá pelo ano de 1979, com minha ida para a auditoria externa na condição de trainee na Coopers & Lybrand.

É foi uma jornada, repleta de desafios, muitas coisas vividas e experenciadas, que nem uma universidade consegue ensinar.

Muitos erros e alguns acertos...

Diversos cargos: auditor externo, auditor interno, controller, diretor financeiro, CFO, gerente geral, em diversos setores da economia: serviços, alimentação, alimentação animal, químico, metalurgia, borracha, curtume, autopeças, têxtil, automotivo, agrícola, boa parte com responsabilidade de gestão de operações em toda América Latina, e algumas vezes incluindo responsável por negócios em outros continentes.

Neste tempo todo vivenciei diversos momentos econômicos diferentes, bem desafiadores, hiperinflação, diversas desvalorizações, muitos planos econômicos, mudanças de moedas, e outros.

No mundo corporativo, não foi diferente, muitos desafios, que algumas vezes, no momento em que estava acontecendo parecia que não terminaria nunca. Muitas reorganizações, downsizing de operação, construção e implementação de plantas fabris, venda de operações, compra de empresas, due diligence, fusão, cisão, demissão, admissão, contratação, demissão, implementação de projetos, sistemas eletrônicos, e muito mais.

Puxa vida, quanta coisa!

Boa parte do meu tempo passei em viagem de negócios no Brasil e fora do país, logicamente, que isto, implica em estar ausente por muito tempo da convivência familiar, principalmente no meu tempo onde tudo, exatamente tudo, precisava ser presencial. Foram muitas viagens de longa duração. Lembro que o meu recorde foi de 48 viagens internacionais em um ano.

Em alguns momentos, muito stress, mas também, muitos momentos bons.

Interessante que mesmo aqueles momentos que me pareciam ser uma decisão equivocada, com o passar do tempo, se demonstrou ser a melhor opção.

Conheci e trabalhei com muitos profissionais brilhantes, mas também com algumas pessoas horríveis, neste caso, por sorte, uma minoria, entretanto a convivência com estas pessoas tóxicas, me ajudou a amadurecer muito como gestor também como pessoa, e agora entendo que fez parte do processo de aprendizado, o que me permitir ser o que sou hoje.

Treze anos atrás, um pouco cansado com a vida corporativa, e também fazendo minha gestão de riscos, mudei para um negócio próprio, iniciando a Crossover. É não foi fácil, algumas vezes me questionei se havia tomado a decisão correta. Tive alguns convites para voltar ao mundo corporativo, mas de alguma forma, não sei como, nestes momentos ficava muito claro que tinha que continuar com a Crossover.

Foram alguns anos bem complexos, uma coisa é você trabalhar para uma corporação e outra coisa é você começar uma empresa do zero, apostando tudo nesta empresa. Ligado vinte-quatro horas, trabalhando pelo menos quinze horas por dia, sete dias por semana.

Não que seja muito diferente hoje, mas acho que me acostumei, além do mais, aprendi que quando fazemos o que gostamos, quando enxergamos um propósito em nossos esforços, como levar conhecimento e apoio para o fortalecimento das corporações e o desenvolvimento dos profissionais, nada é enfadonho, muito pelo contrário, acaba sendo muito prazeroso.  

Interessante que quando estamos vivenciando tudo isto, lá no meio do furacão, parece que o tempo demora a passar, parece que não vai haver solução, mas no final tudo, de alguma forma, passa.

Olhando para o passado pela perspectiva de hoje, é como se tudo isto tivesse acontecido um segundo atras.

O que aprendi com tudo isto?

  • ·         Primeiro aprendizado é que a paciência é uma virtude importante, pois tudo acontece em seu tempo, e que tudo, de alguma forma, passa,
  • ·         Que toda experiência vivenciada, seja ela boa ou ruim, é insumo para nosso amadurecimento como profissional e como pessoa,
  • ·         Que mesmo as decisões tomadas, que em um primeiro momento, nos parece equivocada, podem, em médio e longo tempo, se demonstrar acertada,
  • ·         Apesar de todo conhecimento obtido na academia como também na vivência diária, isto nunca é suficiente, precisamos continuamente buscar conhecimento e aprendizado, é o chamado lifelong learning,
  • ·         Aprendi muito mais com os erros de com os acertos, mas para isto, antes precisei aprender a reconhecer que errei, o que não era muito fácil, pois não somos treinados para errar. Com o tempo e a maturidade, vem também a humildade para reconhecer que não era infalível e que podia errar,
  • ·         Outro aprendizado é que sozinhos não somos nada. Para vencermos, precisamos de uma equipe comprometida e com profissionais de excelência, e com certeza, tive e tenho as melhores pessoas e profissionais em todas as minhas equipes, que um gestor poderia ter. Sou imensamente grato por ter tido a possibilidade de conviver com cada um deles,
  • ·         Também aprendi que não é o dinheiro que me move, mas sim o desafio, que o dinheiro é consequência,
  • ·         Que ser ético, para ter a conduta esperada, dentro dos valores morais da sociedade, é o maior patrimônio que um profissional pode ter, não existe dinheiro que pague sua consciência tranquila.
  • ·         Não existe líder, sem liderados, e que a sua posição hierárquica não lhe torna um líder. O líder, no mínimo, precisa ser agregador, inspirador e confiável,
  • ·         Também que ao invés de me preocupar em manter o emprego, o mais importante era manter a empregabilidade.

Se eu faria tudo de novo?

Sim, com certeza. Tudo que sou hoje é devido a tudo isto. Logicamente, viveria tudo isto novamente, mas sempre com o suporte da Marcia (minha esposa), que sempre esteve apoiando e participando como balizadora nos tempos mais difíceis, pois, sem ela ficaria muito difícil.

Se tem algo que mudaria?

Sim, não deixaria de ter ido na festa de aniversário de 15 anos de minha filha, por estar fora do país discutindo planejamento anual. Mas isto é passado e tenho que deixar isto no passado, pois a vida segue.

Mas, vê-la na televisão, como uma profissional de alta performance e reconhecida pela sua excelência, tudo isto obtido pelos seu próprio esforço e dedicação, além de ser uma filha incrível, me faz compreender que todo este meu esforço não foi em vão.

Bom, já são duas horas da manhã, é melhor eu ir descansar, pois daqui apouco, começará mais um programa de capacitação de profissionais.

Puxa se pudesse passar um pouquinho desta experiência para os alunos, seria tudo de bom, quem sabe um dia escrevo um livro....

Pelo jeito está jornada não está perto do final.... será?

Boa noite diário.”

 

Desculpe-me se este relato ficou muito longo, mas, espero que de alguma forma ele possa ajudá-lo a passar pelos desafios da vida profissional e pessoal.

Saiba que toda e qualquer experiência vivenciada, mesmo aquelas que nos machucam, vão torna-lo mais resistente, mas forte, e muito mais consciente.

Tudo que passamos em nossa vida, tenha certeza que importa!

Que saiamos daqui melhor do que quando chegamos!

Reflita, Inove e Seja feliz!

Share this:

Comentários

0 comentários:

Postar um comentário