O desconforto da economia, segundo Prof. Delfim Neto


Muita se fala da condição da economia Brasileira, notícias alarmantes sobre inflação, pequeno crescimento do PIB, mercado em retração e por ai vai.

Logicamente que devemos nos preocupar com esta situação, não podemos simplesmente achar que tudo esta a mil maravilhas, contudo, também não devemos exagerar em nosso pessimismo, pois ambas as situações são prejudiciais ao nosso País.

Como já mencionei em outros posts, para mim o grande problema do Brasil se chama "gestão de baixo desempenho" seja ela nas empresas públicas ou nos ministérios. Além disto temos dois grandes gargalos - infraestrutura deficiente e falta de mão de obra qualificada - que enquanto não forem resolvidos estaremos limitado em nosso crescimento.

Hoje fazendo a leitura dos jornais, me deparei com a coluna do Prof. Delfim na folha de São Paulo, a qual quero compartilhar com vocês, pois vai de encontro com minhas expectativas. Vejam o texto abaixo na integra:


"A situação econômica no Brasil tem feito pouco progresso, mas não justifica o enorme pessimismo que se criou em torno dela. Os resultados das políticas fiscal e monetária não são confortáveis, mas não há qualquer indicação que a primeira seja insustentável, ainda que no longo prazo existam nuvens negras como a seguridade social não resolvida; ou que a segunda seja incapaz de manter a inflação dentro do intervalo da meta, ainda que o seu retorno ao centro exija a absorção de alguma inflação reprimida.

A política cambial foi corrigida pela ação do próprio mercado, não sem antes ter comprometido o setor industrial e acumulado mais de US$ 280 bilhões de déficit em conta corrente nos últimos seis anos.

Não há nada, portanto, que ponha em risco a nossa estabilidade. É o desconforto persistente e acumulado --sem clara resposta de reformas de longo prazo para atenuá-lo-- que: 1º) aumenta a dúvida do setor privado, reduz seus investimentos e sua confiança no governo; 2º) leva as agências de rating a ameaçar a classificação do Brasil e 3º) estimula reações raivosas de parte dos intermediários financeiros nacionais e internacionais aos quais não faltam "novidades" produzidas por 12 índices de preços semanais, quinzenais e mensais gratuitos e um índice diário oneroso. Por fim, mas não menos importante, 4º) propiciam mudanças rápidas de opiniões importantes como a da "Economist", na última semana.

No mesmo momento em que a presidente Dilma reafirmava num seminário em Nova York "que o equilíbrio das contas públicas é precondição para nosso crescimento" e que "precisamos não só dos recursos, mas da gestão do setor privado, que é mais eficiente, mais ágil e de menor custo, a "Economist", que colocara numa capa de 2009 o Cristo Redentor (o Brasil) decolando, reviu suas expectativas e publicou agora nova capa com Ele "estolando" e perguntando: "Eles estragaram tudo?".

A primeira observação é que a economia brasileira parece ter importância para merecer duas capas! A segunda é, gostemos ou não, a "Economist" é a revista econômica semanal mais lida no mundo por leigos e acadêmicos de todas as convicções ideológicas. Trata-se de uma instituição com as certezas e a arrogância que lhe conferem os seus 170 anos bem vividos (foi fundada em 1843 e já passou por dificuldades financeiras) na defesa intransigente da mesma tese: a liberdade dos mercados é a melhor solução para os problemas econômicos.

Deve ser entendida na sua importância e no seu dogmatismo, com o mesmo humor e ironia britânicos com que elogia ou critica. Certamente exagerou para o bem em 2009. Vingou-se exagerando para o mal em 2013. Exagerou, mas não inventou nada."

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